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Carros mexicanos ganham passe livre para o Brasil: isso é bom ou ruim?
Desde esta terça-feira (19), os dois países passaram a ter um acordo de livre comércio de veículos, mas abertura comercial assusta as filiais das montadoras aqui
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Agora é oficial: desde esta terça-feira (19) já não existem impostos de importação para veículos produzidos no México serem vendidos no Brasil e vice-versa. A medida era prevista há anos, mas acabou postergada pelo pretexto de sempre, a de que os carros fabricados aqui não são competitivos perante os mexicanos e haveria uma invasão que quebraria a “nossa” indústria.
Apesar de tentar mais uma vez barrar a abertura, desta vez a Anfavea acabou derrotada pelo governo que não fez objeção a que o acordo passasse a vigorar. Mas, afinal, isso é bom ou ruim para o Brasil?
A resposta não é simples afinal os reflexos da abertura comercial podem ser diferentes de montadora para montadora, mas uma coisa é certa: com produtos até 40% mais baratos de produzir (em 2018 quase 80 mil veículos foram enviados para cá), o México acabará pressionando de uma forma ou de outra nosso mercado a melhorar sua eficiência. E que governos municipais, estaduais e mesmo a União se mexam no sentido de reduzir a carga tributária e os custos indiretos como o frete.
Há, no entanto, uma condição para que um carro mexicano seja vendido sem pagar o salgado imposto de importação brasileiro, de 35%. Que ele tenha 40% das peças produzidas no Brasil. Na prática isso quer dizer que um Nissan Sentra fabricado no México, por exemplo, precisará ter quase metade do seu conteúdo nacional. A regra vale no caminho inverso também: se a FCA quiser vender um Renegade para os mexicanos terá de comprar peças do país.
Esse aspecto, inclusive, joga luz sobre uma realidade que é sempre omitida pelos fabricantes, a de que chamar um carro de nacional é algo apenas subjetivo. Há vários modelos montados no Brasil que possuem uma enorme quantidade de componentes importados. Pegue-se o exemplo do HB20, sucesso de vendas da Hyundai, mas que até hoje importa seus motores mesmo tendo volume para ter uma fábrica de motores no país.
Emprego na ponta da língua
O principal argumento das filiais brasileiras de fabricantes de automóveis obviamente está no suposto investimento que o Brasil perderá caso abra seu mercado para veículos importados. Afinal, dizem eles, para quê ter fábricas aqui se é bem mais barato importar? De quebra, surge o maior fantasma dessa desindustrialização, o temor do desemprego em massa com o fechamento de unidades em território nacional. No entanto, a Ford anunciou o fim da fábrica de São Bernardo do Campo mesmo com nosso mercado protegido da ameaça estrangeira.
O fato principal nessa mudança de status é que as montadoras instaladas no Brasil terão de sair da zona de conforto de um mercado imenso cuja participação de veículos importados é mínima. Temos a capacidade de produzir carros globais, mas não de vendê-los para nossos vizinhos.
Como dito aqui no Autoo, há algo de muito errado numa indústria em que a marca mais vendida reclama de prejuízo, embora esteja disposta a investir R$ 10 bilhões após alguns agrados de governos. Habituou-se a reclamar de tudo que possa ameaçar sua presença no Brasil, mas tudo o que foi feito para agradá-las não atinge o consumidor final diretamente. Isenções, empréstimos a juros camaradas e outras facilidades só surgiram com o intuito de preservar empregos, embora a mesma indústria esteja rumando para a automação ano após ano.
Perdedores e vencedores
Os lamentos sobre a abertura com o México, no entanto, não são uníssonos na própria Anfavea. Há marcas que sim devem sofrer com a concorrência dos veículos mais baratos vindos de lá, mas há também que veja essa medida como uma enorme oportunidade.
Hoje marcas como Nissan, Chevrolet, Volkswagen e Ford trazem carros como o Sentra, Tracker, Jetta e Fusion, mas há outras montadoras com fábricas importantes no México, caso da Kia, BMW, Honda e a própria FCA, sem falar na japonesa Mazda, que chegou a se interessar por um retorno ao Brasil.
Com a necessidade dos 40% de conteúdo nacional, nem todos os modelos produzidos lá atenderão esse requisito, afinal a indústria automobilística do México tem um cliente principal e não é o consumidor mexicano. Trata-se, é claro, dos EUA, que compra a maior parte da produção do país, ao menos até quando Donald Trump não inventar algum bloqueio comercial.
Se essa concorrência (desleal ou não, não nos cabe afirmar) dará frutos na forma de carros mais baratos para os brasileiros, isso é difícil afirmar. Dependeria basicamente de alguma empresa repassar parte dos benefícios desse custo menor para o preço final de seus modelos e assim puxar suas concorrentes para baixo. O problema é que o mercado brasileiro não está habituado a esse tipo de “guerra comercial” – os poucos que se arriscaram a cutucar os pseudo-fabricantes nacionais acabaram se dando mal no passado, vide a JAC Motors e a própria Kia.
Talvez com a nova realidade, finalmente as montadoras e o governo resolvam pensar em soluções sustentáveis que façam os empregos voltarem a crescer, assim como as vendas. Ela passa por impostos com alíquotas decrescentes para quem produz mais e têm preços mais baratos, afinal é tornando o automóvel mais acessível que permitirá que o mercado brasileiro cumpra sua eterna promessa de ser um dos que possui maior potencial no mundo.
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