Cayenne híbrido: ecológico, mas sem perder a ternura

SUV da Porsche preserva a esportividade e ainda faz mais de 12 km com um litro de gasolina
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Porsche Cayenne S Hybrid: desempenho de esportivo, consumo de popular | Imagem: Ricardo Meier

O sentimento de frustração deve ter ocorrido com você, caro leitor, pelo menos alguma vez caso tenha um automóvel com motor flex. Depois de abastecer e conferir a média de consumo de seu carro, ficou decepcionado com valores como 6 km/l ou menos. Até mesmo os “populares” mais novos há muito não exibem aquelas médias fabulosas (beirando 20 km/l) dos tempos em que o motor 1.0 era só a gasolina e mal passava dos 50 cv.

Tudo bem, vamos relevar, com etanol há um consolo pelo preço mais baixo – ao menos em parte do ano. Mas não há milagre: se queremos potência pagaremos com mais combustível. Se quisermos economia, esqueça agilidade e desempenho. É uma regra imutável...opa, não é mais.

Descobri isso nesta semana depois de dirigir o Cayenne S Hybrid. “Como é?”, você deve estar pensando. “Aquele SUV grandão e potente da Porsche?”, pode argumentar com um ponta de desconfiança. Ele mesmo.

Com mais de duas toneladas de peso, o “jipão” alemão pode ser qualquer coisa, menos econômico, mas a versão híbrida contradiz a lógica. São 380 cv de potência, 0 a 100 km/h em 6,5 segundos e velocidade máxima de 242 km/h, mas também um consumo médio de 12,1 km por litro. Você não leu errado: 12 e não 2.

É verdade que o próprio comum pode ser considerado um veículo com apetite moderado já que tem média de 10,5 km/l, mas não deixa de ser impressionante ver um tipo de automóvel que há poucos anos era taxado de anti-ecológico gastar hoje menos que um compacto.

Porsche Cayenne S Hybrid V6

Dados técnicos
Preço
R$ 490.000 (estimado)
Capacidade
5 passageiros
Velocidade máxima
242 km/h
0 a 100 km/h
6,5 s
Consumo urbano
11,4 km/l
Potência
380 cv
Torque
59,1 kgfm
Porta-malas
580 litros

Híbrido adaptado

Antes de explicarmos o que torna o Cayenne Hybrid especial é sempre bom explicar como o motor elétrico é encarado hoje na indústria automobilística. Há os 100% elétricos como o Nissan Leaf e o Mitsubishi i MiEV, os híbridos de nascimento, como o Toyota Prius e o Chevrolet Volt, e os automóveis a combustão com versões híbridas. É nesta última categoria que se encaixa o Cayenne, assim como o Ford Fusion Hybrid.

Nesses casos, o motor elétrico é adicionado sem alterar significativamente o veículo, mas há sempre algum espaço perdido por conta da bateria. Se no Ford isso se traduz num porta-malas um pouco menor, no Cayenne significa perder o compartimento do estepe, abaixo do bagageiro. É lá que está alojada a bateria de níquel-cádmio do Porsche. Como a marca alemã ainda não definiu quando a versão híbrida desembarcará aqui, a solução encontrada foi instalar um suporte dentro do porta-malas no modelo de avaliação. Certamente, não será esta a saída caso o modelo seja vendido em breve.

Com exceção desse detalhe e da inscrição “Hybrid” na lateral da carroceria, pouca coisa denuncia que este Cayenne é diferente. Quem abrir o capô também pode notar a presença de três cabos de força na cor laranja vindo da parte traseira, mas é só.

Depois de um curto briefing do funcionário da Porsche, assumimos o comando do Cayenne Hybrid a fim de descobrir na prática como funciona o sistema desenhado pelos alemães. Acionamos o carro pela chave do lado esquerdo do cockpit (tradição da Porsche) e – surpresa – o motor a combustão deu sinal de vida e começou a girar numa rotação até alta. O instrutor da empresa logo se apressou em explicar que o carro havia detectado uma carga baixa na bateria e estava aproveitando para recarregá-lo enquanto estávamos parados. Caso ela esteja com um nível satisfatório, o motor a combustão permanece em silêncio, como ocorre com o Fusion híbrido.

Econômico, mas veloz

Como todo carro ecológico atual, o Cayenne também fornece muitas informações sobre o uso do recurso elétrico. O console central mostra de maneira bem clara em que regime estamos – se usando motor a combustão, motor elétrico ou se está recarregando a bateria, por exemplo. Há também uma tecla chamada de E-Power, que privilegia o uso da energia elétrica. Outra diferença interessante é que o conta-giros no painel possui uma faixa batizada de “Ready” (pronto, em português), que significa que o motor V6 não está em uso mas preparado para entrar em ação se necessário.

Poucos minutos depois de ligado, o motor V6 baixou o giro indicando que a bateria já possuía carga suficiente. Partimos da concessionária da marca em direção ao interior de São Paulo, mas logo na saída encontramos um imenso congestionamento. Normalmente ficaria irritado com isso, mas foi a chance perfeita para entender como o Cayenne híbrido reage a situações comuns como essa.

Mal entramos na via “expressa” e o motor do Cayenne parou. O fluxo do digrama no painel LCD, em setas azuis, indicava que a energia vinha do motor elétrico. Rodando a uma velocidade que mal passava dos 20 km/h, o gigante de duas toneladas não emitia um grama de poluente. O pequeno motor elétrico, de 47 cv, assumia a responsabilidade por movimentá-lo, claro que sem a disposição do seu colega de trabalho.

A sacada da Porsche é essa: utilizar o motor elétrico em situações em que não haja necessidade de grandes acelerações, porém, diferentemente do Fusion, o Cayenne pode rodar até a 70 km/h apenas com eletricidade. E mais: mesmo em velocidades mais altas, o força do motor é usada em conjunto com o V6: “como marca esportiva, a Porsche prioriza o desempenho também”, explica o instrutor.

No entanto, por ser limitado, o sistema elétrico não tem grande autonomia. Por isso, há um constante gerenciamento do carro que varia o uso da fonte de energia já que a bateria descarrega com rapidez. Na prática, o Cayenne não permanece numa situação por muito tempo: ora está apenas com o motor a combustão, ora com o elétrico, ora carregando a bateria ou, então, aproveitando a energia cinética e das frenagens para recuperar energia. Ou seja, mesmo quando não estamos acelerando ou freando, o carro continua a gerar eletricidade.

O KERS, o sistema que aproveita a energia das frenagens, proporciona uma situação inusitada. Em baixas velocidades, o pedal ficou muito sensível, ao contrário de freadas vindo de velocidade mais elevada.

Força conjunta

Mais tarde, após deixarmos o congestionamento e já na rodovia, pudemos conferir seu comportamento mais esportivo. Bastou acionar o “kick-down”, o clique no final do curso do pedal de aceleração, para ver o Cayenne híbrido utilizar toda sua força de 380 cv para entregar desempenho. Nesse caso, o consumo volta a ficar alto, claro.

Por falar nele, nossas medições durante o test-drive foram bem interessantes. Numa tocada mais forte, a média caiu para cerca de 6 km por litro. Mas bastava um certo cuidado na aceleração e na manutenção da velocidade para ver a média subir para 10 km ou mais a cada litro.

Mas não é na estrada que o Cayenne híbrido se destaca. Ali ele é até mais gastão que seu irmão “normal”, que faz 14 km de média. O melhor do Hybrid é visto na cidade. Se ele consegue rodar 12,6 km com um litro em trechos rodoviários, são 11,4 km em ambiente urbano. Uma diferença de apenas 10,5% enquanto no Cayenne S a gasolina ela é de quase 77%.

Preço salgado

Embora a Porsche não revele se pretende vender o Cayenne S Hybrid no Brasil, a marca admite que o modelo ecológico possa custar em torno de 30% a mais que a versão S normal. Isso quer dizer um valor entre R$ 490 mil e R$ 500 mil. Quase o preço do modelo turbo, o mais caro da linha, mas um acréscimo natural já que a legislação brasileira não incentiva os carros ecológicos, que acabam pagando os mesmos impostos de modelos beberrões e poluentes.

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