Com Brasil diferente, Jaguar Land Rover abre sua fábrica nacional
Unidade na cidade de Itatiaia produzir?os modelos Evoque e Discovery Sport para um mercado brasileiro mudado desde o anúncio da fábrica
Quando anunciou que construiria uma fábrica no país em dezembro de 2013, a Jaguar Land Rover testemunhava um Brasil bem diferente do atual. A presidente Dilma Rousseff, ainda no primeiro mandato, tinha 43% de aprovação apesar dos protestos em junho daquele ano. A inflação já apontava para cima, mas fechou o ano em 5,9%. O desemprego parecia um fantasma distante: apenas 4,3% da população ativa procurava por uma nova ocupação. Já o PIB, embora abaixo da inflação, ainda crescia 2,3%.
O mercado de veículos experimentava a primeira queda em uma década. Foram 3,77 milhões de veículos emplacados contra 3,8 milhões de 2012. Ou seja, um dos maiores consumidores de automóveis do mundo e onde uma fabricante como a Jaguar Land Rover não poderia ficar de fora.
Que país é este?
Pois bem, 30 meses depois, o cenário que a nova fábrica da empresa encontrará a partir deste dia 14 de junho, quando está sendo inaugurada, é como se a JLR tivesse errado o país onde a construiu.
A presidente reeleita em 2014 já não está mais no poder – a aprovação nos últimos dias de governo era de apenas 10% -, e a inflação, depois de bater em quase 11% no ano passado, recuou um pouco e é estimada em 7,6 este ano. Já o desemprego virou uma realidade assustadora: quase triplicou de 2013 para cá, pulando para 11,2%. Enquanto isso, o PIB deve encolher 3,8% este ano, completando cinco trimestres de recessão.
E as vendas de carros? Simplesmente desabaram para projetados 2,08 milhões de veículos em 2016, uma redução de 61% comparado aos números de 2013.
Land Rover para brasileiros
Mas o argumento da indústria automobilística para a crise não muda: o Brasil é um mercado imenso, mesmo não estando em seus melhores dias e não dá para ficar fora dele ainda mais quando vários concorrentes fincaram pé por aqui.
Por isso, a fábrica da empresa já começa produzindo dois modelos de uma vez, o Evoque, um SUV “cupê” de enorme sucesso no mundo, e o Discovery Sport, versão família e voltada a um público que precisa de mais espaço – juntos eles respondem por 70% das vendas da Land Rover no país e cujas versões nacionais já começarão a ser entregues nas concessionárias neste mês.
Assim como outras fábricas de marcas de luxo, a unidade da empresa britânica é pequena se comparada à de montadoras mais populares: tem 60 mil m² e é capaz de produzir 24 mil veículos por ano, embora vá começar num ritmo bem menor do que esse – para se ter ideia, a Land Rover vendeu 3 mil carros nos cinco meses de 2016. Logo, é bem possível que esse seja o volume inicial de produção em Itatiaia. De lá, o Evoque já começa a ser produzido neste mês e o Discovery Sport a partir de agosto.
O índice de nacionalização também começa baixo e vai se aproximando da meta estipulada pelo Inovar Auto. Mas engana-se quem pensa que haverá modelos da Land Rover espalhados por toda a parte: mesmo fabricados no país, os SUVs britânicos continuaram custando muito e para uma parcela mais restrita de consumidores.
A vantagem da operação está mais em evitar as constantes oscilações da nossa economia, cujo câmbio pode ir de R$ 2,37 (cotação do dia do anúncio da fábrica) a R$ 3,45 (na véspera da inauguração). Ao menos agora a fabricante estará preparada para quando o país retomar o crescimento e isso talvez faça valer o famigerado “risco Brasil”.
Ao menos por enquanto ainda não há previsão de produzir outros modelos da Jaguar Land Rover, nem sequer exportar o Evoque e o Discovery Sport para outros mercados além do brasileiro. O volume total de produção da unidade, contudo, deixa margem para que o grupo inglês invista na nacionalização de outros produtos, o que dependerá, obviamente, de um cenário mais favorável ao país na economia e na política.