O anúncio da Ford de encerrar a produção de veículos em território nacional pegou o mercado de surpresa, mas as vendas do início de 2021 parecem já prenunciar a brutal queda que a montadora norte-americana terá no ranking de emplacamentos nos próximos meses. Segundo levantamento exclusivo do AUTOO, a Ford figurava apenas na 7ª colocação entre as marcas de veículos leves no Brasil, atrás até da Jeep, cuja linha de produtos é bem mais cara e exclusiva.

Até o fim da semana passada, a Ford acumulava somente 5 mil unidades emplacadas, ou 6,3% de participação, uma queda de 1,5 ponto percentual que, para os padrões brasileiros, se trata de um escândalo. A “culpa” pelo início ruim é do Ka, seu modelo mais popular e acessível.

O hatch compacto, que em janeiro do ano passado era o terceiro modelo mais vendido do país, em 2021 despencou para o 12º lugar na quinzena, com pouco mais de 2 mil emplacamentos. Seu irmão, o Ka Sedan, foi pior: até sexta passada figurava na 39ª colocação no ranking geral com modestos 586 veículos emplacados.

Essa situação já mostrava sinais de deterioração desde o final do ano passado, mas agora os dois compactos estão indo em direção ao fundo do poço enquanto eram vice-líderes em janeiro de 2020.

O EcoSport, por sua vez, ainda mantém um volume praticamente normal de vendas e até melhorou sua posição em relação à 2020, saindo do 27º para o 24º lugar. Futuro modelo “mais barato” da Ford, a picape Ranger subiu no ranking – ela continuará sendo produzida na Argentina, país escolhido pela montadora para concentrar os investimentos na região.

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Desaceleração pré-anúncio?

Embora os resultados parciais mostrem um declínio prematuro da presença da Ford no Brasil, soa um tanto precipitado afirmar que os reflexos do anúncio do dia 11 de janeiro já tenham sido percebidos no mercado. Espera-se sim que pedidos sejam cancelados por clientes frustrados ou temerosos quanto à desvalorização de Ka e EcoSport, porém, o intervalo de tempo parece curto para mostrar esse tipo de reação.

O que soa mais verossímil é que a rede pode já ter sentido sinais de redução no abastecimento de modelos novos, somada à virada do ano, quando muitas marcas antecipam emplacamentos, gerando essa espécie de ressaca de janeiro. A própria líder do mercado em 2020, a Chevrolet, começou o ano em 3º lugar, atrás da Fiat e Volks, com apenas 16,5% de participação, comparados aos 19% de janeiro de 2020.

Por isso, não será surpresa se esse panorama mudar no final do mês, quando o mercado retomar um fluxo mais próximo do real (desde que a pandemia assim o permita). No entanto, a queda da montadora logo no início de 2021 já mostra como a presença da tradicional montadora no Brasil será cada vez menos significativa, à medida que os estoques de seus modelos nacionais diminuam. Em outras palavras, o “precipício” para a Ford está apenas no começo.

Obs: dados de emplacamentos na primeira quinzena de 2021 comparados ao total de janeiro de 2020. Fonte: Denatran