O Uno nunca foi tão bom e nunca vendeu tão pouco
Compacto da Fiat ganhou motor econômico e refinamentos que melhoraram a experiência de dirigir s?que quase ninguém o leva para casa
Talvez nunca na história automobilística brasileira um carro tenha mudado mais do que ele no conceito do público. De menosprezado no início da carreira, em 1984, o Uno passou a ser sinônimo de carro popular quando ganhou a versão Mille. De mico mecânico (quem não teve um que cismava em trocar marchas só quando ele queria?) a carro confiável e pau para toda obra.
Na segunda geração, lançada em 2010, o Uno voltou a chamar a atenção. O estilo ‘rounded square’ (retângulo arredondado) criado pela Fiat foi um banho de design num segmento que vivia de modelos sem graça. O resultado foi um dos carros mais vendidos do país e até ameaçou o reinado do Gol em 2011.
Mas vieram os novos compactos, o Inovar-Auto e a crise econômica. E com eles, as vendas do Uno. Com o fim forçado do Mille, o volume de emplacamentos caiu e a concorrência maior fez o resto. Em 2016, apenas 34,6 mil Unos foram vendidos no Brasil, o que ele conseguia em 45 dias há cinco anos.
Mas, afinal, por que não comprar o Uno? É a pergunta que nos fizemos após avaliar a versão Attractive 1.0.
Visual ‘over’
O primeiro contato com o novo Uno 2017 já revela que o estilo dos quadrados arredondados perdeu prioridade. Os elementos dessa linguagem existem ainda, sobretudo nas lanternas saltadas, mas a frente do carro agora quer parecer mais esportiva. A característica ausência de grade entre os faróis, só quebrada pelos três retângulos do lado esquerdo, virou um conjunto comum, com frisos horizontais. O para-choque encorpou e os faróis, que já haviam mudado no primeiro retoque de 2013, agora combinam mais com o resto do carro. Bem, o resultado não é ruim, mas dá mostras de que passou um pouco dos limites. Algo que, aliás, é comum na Fiat em algumas reestilizações.
Em resumo, o Uno agora quer parecer um carro mais desafiador e menos família, algo difícil de conseguir. Mas vamos para o interior, que é onde o novo Uno se revela, afinal.
Outro carro
Por dentro, o Uno se transformou. O quer era simplicidade e minimalismo agora quer passar a impressão até de sofisticação. O painel assim como outros detalhes haviam mudado no primeiro facelift três anos atrás. Ou seja, o Uno passou a conta com um painel mais completo, volante multifuncional e opções de sistemas de som mais avançados.
Na linha 2017, no entanto, o Uno trouxe duas novidades importantes, a direção elétrica e o motor 1.0 Firefly. Ambos contribuíram para que o carro passasse a ser muito econômico tanto na cidade quanto na estrada.
A direção elétrica não é novidade na marca, mas só chegou ao Uno agora. Leve e precisa, ela ainda conta com o conhecido recurso City, que facilita as manobras em baixa velocidade ao reduzir ainda mais o esforço no volante. De quebra, ela ‘roupa’ menos energia do motor como ocorre com o sistema hidráulico.
A versão testada, Attractive 1.0, estava equipada com os dois pacotes opcionais de equipamentos, incluindo o controle de tração e estabilidade, que inclui o assistante de partida em rampa. Com esses adendos, o Uno custava em fevereiro R$ 47.135, um valor alto, mas ainda assim menor que alguns hatches compactos da concorrência.
Já o motor Firefly é um capítulo à parte. O três cilindros 1.0 não é cheio de recursos modernos como outros propulsores (que incluem quatro válvulas por cilindro, comandos variáveis de válvulas e até turbo com injeção direta), mas ele cumpre o que promete, ou seja, economia.
A primeira boa impressão desse motor de é ter quase toda vibração filtrada na cabine. A outra é a boa resposta em baixas rotações, uma vantagem de um motor aspirado com duas válvulas por cilindro. Ele possui 77 cv de potência com etanol, um ganho pequeno, porém, é no torque que ele compensa. São 10,9 kgfm, suficientes para oferecer uma certa agilidade na estrada e na cidade.
Um faquir em matéria de consumo
Dirigir o novo Uno é uma experiência bastante agradável. A suspensão acusa uma certa inclinação em curvas, mas nada que incomode, e o rodar é confortável, dentro das limitações desse porte de carro.
O novo motor e a direção elétrica tornam o Uno um carro ágil e prático na cidade, mesmo com o câmbio nem tão prazeroso de manusear. O modelo da Fiat é daqueles carros em que você dirige numa posição elevada, o que facilitava a visibilidade. Os recursos a bordo são muito bons, com exceção do rádio um tanto simples. Ter o controle de tração é algo que vale a pena ao se deparar com saídas em ladeira, por exemplo. A tecla City é outro atributo que você se acostuma a usar na cidade.
Mas o prazer vem de notar o ponteiro do combustível demorar a cair. Segundo o Inmetro, o Uno 1.0 roda 9,2 km na cidade e 10,4 km na estrada com etanol. Já com gasolina são 13,1 km na cidade e 15,1 km na estrada.
Na nossa experiência com ele, conseguimos chegar a 12 km/l num circuito predominantemente rodoviário – e usando etanol. Numa outra medição, em que reabastecemos com gasolina, o Uno chegou a 16 km/l numa tocada bastante cuidadosa. Ou seja, é possível rodar mais de 500 km com um tanque com facilidade.
Cadê os clientes?
Com todos esses bons motivos, o Uno 2017 deveria ser uma escolha comum do público, mas não é. Hoje ele vende bem menos do que antes. Está mais caro, é verdade, mas tem que enfrentar uma legião de rivais bem armada. E se ele sobra em equipamentos, perde em design e também em espaço interno.
É aquela conhecida situação em que o produto não parece ‘agregar’ tanto valor, embora o tenha. Ao menos seus proprietários vão poder curti-lo em segredo enquanto outros concorrentes só aparecem bem na foto.
Ficha técnica
Fiat Uno 2017 Attractive 1.0 6V flex manual 4p | |
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Preço | R$ NaN (10/2019) |
Categoria | Hatch compacto |
Vendas acumuladas neste ano | 22.942 unidades |
Motor | 3 cilindros, 999 cm?/td> |
Potência | 72 cv a 6000 rpm (gasolina) |
Torque | 10,4 kgfm a 3250 rpm |
Dimensões | Comprimento 3,82 m, largura 1,636 m, altura 1,48 m, entreeixos 2,376 m |
Peso em ordem de marcha | 1010 kg |
Tanque de combustível | 48 litros |
Porta-malas | 290 litros |