Oroch automática é mais automóvel que utilitário
Nova versão da picape da Renault, no entanto, custa quase o mesmo que a Fiat Toro, o que é um problema
O brasileiro aprendeu a gostar de câmbio automático. A procura pelo recurso só cresce no mercado e tem alguns bons motivos para isso, entre eles o tempo gasto em congestionamentos (onde vale pelo conforto), mas também graças ao avanço das transmissões que estão mais eficientes.
Quando se fala de veículos com preço acima de R$ 60 mil então, o câmbio automático reina e em muitos modelos chega a dispensar versões com transmissão manual. No entanto, a Renault preferiu lançar a inédita picape Oroch em 2015 sem a opção automática, algo que apenas em junho deste ano foi preenchido no portfólio.
A notícia é boa já que a picape teve boa aceitação, mas casa muito bem com a nova transmissão. AUTOO avaliou o modelo por uma semana e constatou que a versão Dynamique 2.0 automática é a que mais combina com a proposta do modelo, um utilitário na essência, mas que tem ótima vocação urbana.
Déjà vu
A Oroch nasceu da costela do SUV Duster. A Renault aproveitou o porte avantajado do modelo para produzir uma picape intermediária entre as compactas e as médias. Com entreeixos maior e uma mecânica até mais sofisticada, ela oferece uma caçamba volumosa sem perder muito espaço, embora a fileira de trás não esbanje conforto comparado a algumas picapes maiores. Perto de Strada, Saveiro e Montana, no entanto, ela sobra.
O resultado é um veículo relativamente alto e bem resolvido no estilo. Mas a Oroch herdou a parte mecânica do Duster, que não chega a encher os olhos. Isso significa motores 1.6 e 2.0 e câmbio manual de 5 e 6 marchas. Se um pacote é aquém da tarefa de movê-la o outro esbarra no consumo mais alto, por isso a Renault mexeu na linha 2017 da picape.
No caso do motor 2.0, foi introduzido um sistema de regeneração de energia que recarrega a bateria em situações em que o motorista não está acelerando, evitando assim tirar recursos do motor. Outra novidade é a direção eletro-hidráulica, que aciona o volante por meio de um motor elétrico, mais uma vez poupando o propulsor. De quebra, a montadora equipou a Oroch com pneus verdes, que ajudam a reduzir o consumo de combustível.
Tudo isso foi importante para que a versão automática, disponível apenas no modelo Dynamique 2.0, não ficasse com um consumo muito alto. Segundo o Inmetro, a Oroch roda 5,9 km/l na cidade e 7,6 km/l na estrada com etanol e 8,6 km/l (cidade) e 10,8 km/l (estrada) com gasolina.
Não é um desempenho impressionante, que comprovamos no dia a dia. Apesar de mais contida, a Oroch tem uma quedinha para a bebida. Talvez uma solução para isso esteja justamente na transmissão, que dispõe de apenas 4 marchas e já é conhecida de outros carros da Renault.
Ela possui um funcionamento até mais suave do que o esperado, mas perde para os câmbios da rival Toro, da Fiat. Para se ter uma ideia, a nova versão Freedom 2.4 da picape está equipada com o câmbio ZF de 9 marchas e consegue o mesmo consumo da Oroch, porém, oferecendo mais potência e torque.
Tête-à-tête
E por falar na Toro está aí a grande pedra no sapato da Oroch. Embora possa se dizer que elas não chegam a ser concorrentes diretos, na versão automática elas se equivalem em preço. Enquanto a Toro Freedom 1.8 parte de R$ 82.930 a Oroch Dynamique 2.0 custa R$ 79.120, valor que pode chegar a R$ 82.610 com o pacote que a aproxima dos itens da Fiat.
Sim, a Oroch é uma picape mais espaçosa e conta com um motor mais potente que se reflete em mais disposição seja na aceleração de 0 a 100 km/h (9,7 segundos com etanol) ou velocidade máxima 186 km/h, isso sem afetar o consumo comparado ao da Toro 1.8, no entanto, não há como colocá-la na mesma categoria da rival em construção, equipamentos e dirigibilidade.
A Oroch é um projeto baseado na plataforma M0 original, do Logan, e por isso ainda carrega algumas soluções que foram suprimidas na segunda geração da família. Entre elas estão botões em locais pouco práticos, painel de difícil visualização e adaptações como a enorme caixa que acomoda os acionadores dos vidros elétricos nas portas.
O acabamento, embora tenha evoluído, também é bastante simples para um carro que custa R$ 80 mil. Em compensação, a picape da Renault traz o prático sistema Media Nav Evolution e sensor de estacionamento traseiro, necessário num veículo com quase 4,7 metros de comprimento.
A Oroch automática é um veículo agradável de dirigir, com direção e suspensão bem ajustadas para uma picape. A visibilidade é boa em todas as direções e largura do cockpit, raridade no meio. É um veículo com um estilo mais rústico, que lembra as origens das caminhonetes, mas será que é isso mesmo que o cliente busca? Seja como for, a Oroch com câmbio automático é a versão mais urbana da picape.
A caçamba, com 683 litros, é de fácil acesso, mas exige que o pacote Outsider (R$ 3,5 mil) seja incluído caso você queira a indispensável capota marítima. Seria uma picape bacana caso não existisse uma concorrente superior e com preço parecido.
Ficha técnica
Renault Oroch 2017 Dynamique 2.0 16V flex automático 4p | |
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Preço | R$ NaN (10/2017) |
Categoria | picape compacta-média |
Vendas acumuladas neste ano | 6.071 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1998 cm³ |
Potência | 143 cv a 5750 rpm (gasolina) |
Torque | 20,2 kgfm a 4000 rpm |
Dimensões | Comprimento 4,693 m, largura 1,821 m, altura 1,695 m, entreeixos 2,829 m |
Peso em ordem de marcha | 1375 kg |
Tanque de combustível | 50 litros |
Caçamba | 683 litros |