Ranger 2010 mira no bolso do cliente
Ford repagina picape média e reduz preços para ser o modelo mais barato do país
A conversa é fictícia, mas resume o que deve ter ocorrido. Perguntada se poderia desenvolver a nova geração da Ranger, a Ford brasileira teria recebido da matriz a seguinte resposta: “Esqueçam isso, façam o que puderem com a picape atual”.
É essa a sensação que tivemos ao assistir hoje a apresentação da Ranger 2010. A picape média continua com a mesma em sua base, mas ganhou novidades em quase todos os sentidos – exceção feita ao grupo propulsor. O visual foi pesadamente remodelado, novos equipamentos foram acrescentados e o preço caiu a ponto de a versão de entrada passar a ser a picape média mais barata do mercado.
A Ford diz que deverá aumentar suas vendas em até 20% e que o principal chamariz do utilitário será o custo-benefício. Mas a marca americana desdenhou do motor flex, novidade que chegou a ser esperada, mas que novamente ficou para depois.
Foco na faixa intermediária
Um dos segmentos mais complexos do mercado, as picapes médias atingem a públicos muito diversos. Enquanto a versão de cabine simples e motor a gasolina são mais usadas em empresas em áreas urbanas, as mais caras, com motor diesel, cabine duple e até câmbio automático, fazem o papel de sedãs em regiões onde o agronegócio é forte.
Para a Ford, a Ranger está no meio termo: há versões mais simples, mas não é feito um trabalho de vendas para frotistas, e picapes mais equipadas, porém, com preço até R$ 100 mil. Nesse sentido, a picape ganhou mais motivos para agradar para quem se preocupa o bolso. Primeiro porque ela agora conta com garantia de três anos, oferecido apenas pela Toyota, e segundo porque os preços foram reduzidos e novas versões criadas, como a Limited a gasolina.
Estilo revisto
Desenvolvida pelo centro de design de Camaçari, a Ranger 2010 mudou sensivelmente na parte externa. E a inspiração da equipe de design brasileiros não deixa dúvida: foi o Fusion, um dos carros de maior sucesso da marca no país. É facilmente identificável essa influência no design. A grade cromada tripla é o ponto mais evidente, mas os faróis retangulares também remetem ao Fusion da geração anterior. Uma curiosidade do projeto são os novos para-choques, que usam metal em vez de plástico.
O resultado, no entanto, é conflitante. Enquanto as laterais e a traseira ficaram mais limpas – as maçanetas, por exemplo, foram trocadas pelas do EcoSport –, a frente soa artificial. Em conversas com jornalistas no evento, muitos acharam parecida com modelos da Nissan como o X-Trail. Praticamente todos os painéis externos foram substituídos incluindo o capô, agora mais protuberante.
Sobre os estranhos faróis, eles são agora de dupla pára-bola e usam uma nova tecnologia de iluminação batizada de NEO pela Valeo, a fornecedora do grupo óptico. Graças a um sistema de construção mais avançado, os faróis da Range iluminam 20% a mais na frente e têm abertura 30% mais larga.
Mais comodidade a bordo
Por dentro, o aspecto geral ainda é similar ao da geração anterior da Ranger. A Ford acabou mexendo no primordial. Novo grafismo do painel, rádio com recursos mais modernos como Bluetooth e coenxão para iPod e USB, e vidros elétricos com função um toque para todos os ocupantes. Do EcoSport vieram não só esses botões como também a nova chave com keyless no chaveiro, volante e computador de bordo.
Os bancos ganharam nova padronagem em tom cinza escuro e ajuste de altura e lombar, dependendo da versão. Mas o cockpit apertado continua a ser um incômodo para pessoas maiores. Ainda no quesito conforto, a Ranger oferece também sensor de estacionamento na versão Limited – aliás, um item que deveria ser obrigatório em picapes médias.
Novas versões
A Ford considera que a Ranger terá 18 opções de configuração para seus clientes, isso devido à combinação de tração, combustível e cabine, além do padrão de acabamento. A novidade agora são as versões XL 4x4 diesel com ABS e duplo airbag e Limited 4x2 a gasolina. Por outro lado, a Ford acabou tirando momentaneamente de linha a Ranger Sport, que era a versão de entrada.
O grande chamariz da picape, no entanto, é o preço mais baixo. Praticamente todas as versões tiveram descontos em seu valores. A Ranger XL 4x2 a gasolina é, de acordo com a marca, a picape média mais barata do Brasil, custando R$ 45 900. Já a top de linha Limited 4x4 Diesel caiu de R$ 103 940 para R$ 96 730 ().
Na pista e na terra com a Ranger
Na avaliação realizada nesta sexta-feira durante o lançamento da Ranger 2010, pudemos conhecer de perto a versão Limited 4x2 gasolina, uma das novidades. A picape da Ford agrada no visual lateral e traseiro, mas a frente leva um tempo para ser assimilada. O para-choque metálico é um dos pontos altos do design, mas a grade e, sobretudo os faróis, que invadem a parte superior do capô parecem artificiais demais.
O interior, que já foi referência antes da chegada da Hilux, hoje não faz mais diferença. As mudanças promovidas evidenciam mais o uso de plásticos de qualidade inferior sem esconder a idade do projeto.
Se a picape da Toyota e a L200 Triton nos fazem esquecer que estamos num utilitário, a Ford sempre lembra esse fato. Mesmo tendo o maior entre-eixos da categoria, o espaço interno é restrito, sobretudo no banco de traseiro, de difícil acesso, cuja solução só virá com uma nova geração.
A versão a gasolina é mais confortável que a diesel e os excelentes ângulos de entrada e saída (34º e 29º, respectivamente) facilitam o acesso a pisos irregulares. Entretanto, o torque máximo a 3 750 giros do motor 2.3 litros torna algumas retomadas lentas demais e nem estávamos com um peso elevado na picape. A Ranger encarou bem as estradas de terra, mas o comportamento em curva poderia ser melhor assim como os bancos, que não seguram o motorista e movimentos laterais.
No mesmo lugar
Mesmo que cumpra a expectativa da marca em vendas, a Ranger continuará a ser apenas a 4ª picape média mais vendida do país. Hoje ela vende cerca de 900 unidades por mês e a L200, a 3ª colocada, emplaca quase o dobro. Talvez a versão flex poderia dar fôlego novos às vendas, mas a Ford diz que sua adoção ainda está em estudo e sem data para chegar ao mercado.
Se demorar mais para virar flex, a Ranger pode ver suas concorrentes japonesas Hilux e L200 ganharam versões bicombustíveis antes dela.
Ficha técnica
Ford Ranger 2010 Limited CD 3.0 16V diesel manual 4x4 4p | |
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Preço | R$ NaN (10/2019) |
Categoria | Picape média |
Vendas acumuladas neste ano | 19.836 unidades |
Motor | 4 cilindros, 2968 cm?/td> |
Potência | 163 cv a 3800 rpm (diesel) |
Torque | 38,7 kgfm a 1600 rpm |
Dimensões | Comprimento 5,143 m, largura 1,796 m, altura 1,765 m, entreeixos 3,192 m |
Peso em ordem de marcha | 1999 kg |
Tanque de combustível | 75 litros |
Caçamba | 844 litros |