Teste: CAOA Chery Tiggo 2 ACT
Modelo marca a estreia da joint venture entre CAOA e Chery e já mostra uma grata evolução
Que o Tiggo 2 já estava nos planos era algo conhecido, mas o que ninguém contava era com uma joint venture no meio do caminho. Com a Chery fazendo malabarismos para manter suas operações aqui no Brasil, a solução foi correr atrás de uma parceria que pudesse viabilizar o negócio. No fim, o resultado mostrou-se bem interessante.
O grupo CAOA, como se sabe, é um tradicional conglomerado brasileiro, que conta com uma ampla rede de concessionárias no Brasil, tendo sido responsável por implantar, de forma muito bem-sucedida, a Hyundai no país. Referido grupo constatou na Chery uma oportunidade para aprofundar seus negócios no setor, ao criar uma fabricante de destaque com ampla participação de capital brasileiro (algo que não ocorria desde os tempos da Gurgel).
A Chery, por sua vez, permanece oferecendo o acesso à tecnologia chinesa, como o desenvolvimento de plataformas, motores e câmbios para os futuros automóveis, que serão os frutos da parceria. É, sem dúvida alguma, algo de que as duas empresas podem se beneficiar consideravelmente.
Voltando ao Tiggo 2, o modelo nada mais é do que uma adaptação do Chery Celer nacional, que já era produzido pela marca chinesa em sua fábrica de Jacareí, no interior de São Paulo. Coube ao time de engenheiros da CAOA, responsável pela nacionalização de modelos como os Hyundai New Tucson e ix35, dar uma boa analisada no modelo e aprimorar o Tiggo 2, no que fosse possível. Dizem os rumores que a estratégia chegou até a atrasar um pouco o lançamento do Tiggo 2, mas a espera certamente foi recompensada.
Quem já dirigiu um Chery Celer, que deixará de ser fabricado aqui para dar lugar ao Tiggo 2, notará que o novo modelo melhorou consideravelmente. O câmbio manual de 5 marchas não conta com folgas e os engates estão bem mais precisos e agradáveis. Ponto positivo também para o silêncio a bordo, atributo focado pelos especialistas da CAOA na área que trabalharam diretamente no projeto do Tiggo 2.
A suspensão do Tiggo 2 é outro ponto forte do modelo. Para dar conta de seu apelo SUV, ela foi elevada para que o modelo entregasse uma altura livre em relação ao solo (exatos 18,6 cm), o que facilita o acesso ao carro e torna mais fácil passar por algumas valetas e rampas no dia a dia. O trabalho do conjunto é elogiável e está no mesmo nível de hatches nacionais de marcas mais tradicionais, o que denota uma clara evolução proporcionada pelos engenheiros da CAOA.
Claro que nem tudo é perfeito e o Tiggo 2 ainda tem pontos em que poderia melhorar. A direção, por exemplo, deveria ser um pouco mais direta nas respostas; a visualização do painel de instrumentos, por sua vez, não é das melhores.
O escalonamento do câmbio também vive um impasse. Para que o motor 1.5 16V de até 115 cv e 14,9 kgfm de torque com etanol atendesse não só a quem procura por economia de combustível, mas também deixasse o Tiggo 2 esperto para o uso cotidiano, as relações de marchas ficaram um pouco mais curtas do que o ideal. O resultado é que, na estrada a 120 km/h, por exemplo, o motor trabalha em rotações bem altas, na casa de 4.000 rpm, o que pode acarretar em maior consumo. As acelerações e retomadas, de todo modo, são bem aceitáveis considerando a proposta do Tiggo 2. A CAOA Chery não divulgou os dados oficiais de consumo do modelo, mas considerando o que o Celer alcançava e o que verificamos ao longo de nosso contato com o Tiggo 2, podemos esperar algo em torno de 6,5 km/l na cidade e 8 km/l na estrada com etanol, podendo chegar a 9 km/l e 11,5 km/l, respectivamente, quando abastecido com gasolina.
Importante destacar que até o fim deste semestre chega a opção do Tiggo 2 com câmbio automático de 4 marchas, o que seguramente deverá aumentar a procura pelo modelo.
De modo geral, o espaço interno do Tiggo 2 é razoável. Dois adultos conseguem se instalar com relativo conforto no banco traseiro, mas um terceiro ocupante ali, só mesmo se for uma criança. Para os passageiros na dianteira, a área disponível é adequada. O porta-malas de 420 litros, por sua vez, mostrou-se muito bom para um automóvel com o porte do Tiggo 2.
Para comprar um Tiggo 2 você vai precisar gastar no mínimo R$ 59.990, preço sugerido da versão de entrada (Look). Ela já sai de fábrica com ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, rodas de liga leve aro 16”, sensor de estacionamento, dentre outros. A versão mais cara do Tiggo 2, a ACT como a avaliada aqui, alcança R$ 66.490 e traz como único opcional a pintura preta para o teto, que exige mais R$ 1.500 do interessado. Ela acrescenta alguns itens até inusitados para um modelo da categoria do Tiggo 2, como o teto solar. Para justificar o preço mais alto, o Tiggo 2 ACT também agrega os controles de estabilidade e tração, ar-condicionado automático (sem tela digital), acabamento interno mesclando couro e tecido, além de uma central multimídia com tela de 8” que não nos agradou muito no uso. Ela permite o espelhamento de smartphones, mas não conta com o Apple CarPlay e o Android Auto, algo que facilitaria bastante a interface da central com o usuário.
Com índice de nacionalização de 20%, pode-se dizer que o Tiggo 2 é apenas montado no Brasil por enquanto, mas a CAOA Chery já está em contato com fornecedores para aumentar esse índice para a casa de 60% a 65% em um prazo de três anos. A CAOA Chery promete, contudo, custos de manutenção, revisões e peças bem competitivos para o modelo, que terá 3 anos de garantia total de fábrica.
Pertencente a um segmento muito peculiar e ainda em expansão, onde hoje o JAC T40 atua com clareza, o Tiggo 2 quer fazer a ponte entre um hatch e um SUV compacto, conciliando o preço mais acessível do primeiro com o visual mais robusto do segundo. Além da JAC, montadoras tradicionais, como a Volkswagen, estudam entrar nessa inovadora categoria, uma evolução dos chamados “aventureiros”, como é o caso de Hyundai HB20X, Renault Sandero Stepway e do já extinto VW CrossFox.
Hoje um JAC T40 parte dos mesmos R$ 59.990 que um Tiggo 2 Look e pode alcançar a cifra de R$ 62.990 na versão Pack 3. Entre os dois, o novo produto da CAOA Chery mostra-se uma compra mais interessante do ponto de vista técnico.
A ideia da CAOA Chery é convencer os interessados em modelos como um Renault Duster Expression, de R$ 69.990, a se sentirem atraídos pelo custo-benefício mais competitivo do Tiggo 2, porém não nos parece que o modelo tenha porte para tanto. Sem dúvida alguma o Tiggo 2 é uma opção que cumpre bem seu objetivo de mesclar características de um hatch e de um SUV. Ele ainda precisa melhorar em alguns pontos, porém claramente já pode figurar como uma opção de compra. Talvez na próxima geração do modelo, com o pessoal da CAOA envolvido desde o início do projeto, a nova fabricante nacional passe a oferecer um produto com condições para registrar números de vendas proeminentes. A CAOA Chery espera somar, até o fim deste ano, em torno de 8.800 a 9.000 unidades emplacadas do Tiggo 2.
Ficha técnica
Chery Tiggo 2 2018 ACT 1.5 16V flex manual 4p | |
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Preço | R$ 66.990 (09/2018) |
Categoria | Aventureiro compacto |
Vendas acumuladas neste ano | 4.759 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1496 cm³ |
Potência | 110 cv a 6000 rpm (gasolina) |
Torque | 13,8 kgfm a 2700 rpm |
Dimensões | Comprimento 4,2 m, largura 1,76 m, altura 1,57 m, entreeixos 2,555 m |
Peso em ordem de marcha | 1240 kg |
Tanque de combustível | 50 litros |
Porta-malas | 420 litros |