Teste: Mitsubishi Eclipse Cross HPE-S S-AWC 2019
Antes um cupê, o Eclipse vira um SUV e chega com boas credenciais na faixa dos R$ 150.000
Hoje não tem jeito: o sucesso e a procura por utilitários esportivos ganhou uma relevância tão grande que até mesmo um carro que foi sinônimo de esportivo, como é o caso do Mitsubishi Eclipse, precisou se “converter” a essa nova ordem. Com isso, a montadora japonesa acrescentou o sobrenome Cross ao seu emblemático modelo e a receita ainda ficou interessante! Se você tem mais de 30 anos, certamente vai se lembrar do sucesso que o Eclipse obteve aqui no Brasil na época da abertura do país aos carros importados. Ao lado do Jeep Grand Cherokee, o cupê se tornou célebre, em especial por cair no gosto dos jogadores de futebol mais famosos à época.
Revelado na Europa no começo de 2017, o Mitsubishi Eclipse Cross tem um visual que nos parece um tanto quanto exótico quando obeservado nas fotos – sobretudo pelos traços nada convencionais da parte traseira –, mas "ao vivo" o modelo vai conquistando aos poucos. Visto de frente, o Eclipse Cross segue uma forte tendência para picapes e SUVs daqui para frente, qual seja, a divisão do conjunto ótico frontal em duas ou três partes, uma receita inaugurada pelo Citroën C4 Picasso atual e que não demorou para aparecer em modelos bem-sucedidos como é o caso do Fiat Toro. Com isso, a dianteira do Eclipse Cross dá um grande destaque para o conjunto formado pelo farol de neblina e as luzes de direção, como é possível ver nas imagens.
De uma forma geral, o aspecto frontal do Eclipse Cross é o que deve gerar menos polêmica e agrada pelo estilo arrojado, agressivo e robusto. Partindo para o perfil, a Mitsubishi precisou lidar com uma questão nada fácil: conciliar a proposta mais esportiva de um cupê sem comprometer o conforto e a versatilidade da cabine, dois atributos muito desejados em um SUV. Além disso, havia um desafio extra, no caso preservar uma boa área envidraçada para a favorecer a visibilidade do condutor ao volante.
Quando analisamos a lateral do Eclipse Cross, a saída adotada pela equipe de design da Mitsubishi é facilmente compreendida. Para acomodar todos esses predicados, o jeito foi projetar uma carroceria mais vertical. Com isso, a perfil do modelo cresceu em altura, liberando espaço para que os designers conseguissem trabalhar em um teto com um aspecto mais dinâmico. Contudo, para não atrapalhar a área reservada para bagagens, a tampa do porta-malas precisou ser dividida. Ela acomoda, além do vidro tradicional, uma pequena “espia” logo abaixo do brake-light. É uma solução parecida com o que encontramos em um Toyota Prius, por exemplo. Se você é fã da série Breaking Bad, também poderá fazer uma associação com o antigo que Walter White dirigia.
Como design é uma questão de gosto, aprovar ou não o visual da novidade fica, leitor, a seu cargo. Saiba, no entanto, que apesar do seu jeitão peculiar, o Eclipse Cross oferece uma cabine muito boa para 5 adultos. O modelo ainda apresenta algumas conveniências interessantes, como a possibilidade de deslocar para frente ou para trás os bancos traseiros em até 200 mm. Vale a pena destacar que os assentos traseiros são bipartidos na proporção 60/40. Levando em conta que o Eclipse Cross conta com tração integral, a Mitsubishi quase conseguiu eliminar o túnel central traseiro, algo muito elogiável e que certamente colabora para melhor a habitabilidade da cabine. Se a ideia é transportar a família e os amigos, o Eclipse Cross conta com um porta-malas para 473 litros, volume razoável para a categoria.
Para movimentar a novidade, a Mitsubishi decidiu aplicar no Eclipse Cross um conjunto mecânico condizente com a modernidade de seu projeto. Encontramos sob o capô um motor recém-desenvolvido, no caso um 1.5 turbo, que conta com refinamentos como a mescla de injeção direta e indireta para entregar 165 cv de potência e 25,5 kgfm de torque. Ele só aceita gasolina, sendo que uma opção flex, por enquanto, ainda não está nos planos. “Para o 1.5 turbo virar flex ele precisaria ser usado por mais modelos aqui no Brasil, o que então justificaria o investimento necessário. Se isso ocorrer, aí sim podemos considerar a possibilidade dele aceitar também etanol”, explica Fabio Maggion, engenheiro da Mitsubishi no Brasil.
Os números de consumo homologados de acordo com o padrão Brasileiro de Etiquetagem Veicular ainda serão divulgados pela Mitsubishi, mas durante nossa avaliação conseguimos registrar parciais de 10 km/l na cidade e 15 km/l na estrada, o que está em sintonia com um motor moderno como é o caso do 1.5 turbo. A Mitsubishi escolheu para operar com ele uma transmissão automática CVT, o que sem dúvida pesa a favor das ótimas médias de consumo. A caixa também conta com a opção de trocas sequenciais por meio de 8 relações de marchas pré-definidas no sistema de gerenciamento eletrônico do câmbio.
Uma pena que o Eclipse Cross seja pesado demais (1.605 kg na versão avaliada), algo que é sentido ao volante. Um Peugeot 3008, por exemplo, não traz a segurança extra que a tração integral confere ao Eclipse Cross, mas você nota que aliado ao peso bem inferior, no caso 1.375 kg, o Peugeot consegue ser um carro mais vigoroso nas acelerações e retomadas. Segundo dados da Mitsubishi, o Eclipse Cross com tração integral acelera de 0 a 100 km/h em 11,4 segundos (ou 11,1 segundos na opção com tração dianteira), sendo que o desejável mesmo seria um tempo pouco abaixo dos 10 segundos.
Mas o que se destaca quando assumimos o volante do Eclipse Cross é a qualidade de seu rodar. O modelo tem uma dinâmica impecável, talvez uma das mais refinadas da categoria, com respostas neutras ao volante e um conjunto de suspensão muito bem calibrado para lidar com as vias esburacadas de nosso piso. O nível de silêncio a bordo também merece elogios. Traçando um paralelo, ele lembra muito um Volvo XC40 (parte de R$ 169.950 na versão T4), o que é uma referência de respeito.
Uma coisa é certa: se você se interessou pelo Mitsubishi Eclipse Cross, vale muito mais a pena partir para a opção topo de linha aqui avaliada (R$ 155.990). A diferença para a versão com tração dianteira (R$ 149.990) é pequena demais, considerando a faixa de preço e a sofisticação que o sistema S-AWC (Super All Wheel Control) traz para o Eclipse Cross. Ele controla automaticamente a distribuição de torque para os dois eixos e ainda oferece os modos de uso em neve (pisos de baixa aderência) e terra. Um ponto interessante é que, por contar com acoplamento eletromagnético e um avançado sistema de gerenciamento, o diferencial central pode ficar totalmente bloqueado e, na medida em que se faz necessário, como no caso de aproximação de uma curva, o sistema eletrônico se encarrega de equilibrar a distribuição de força entre os eixos, de modo que a dirigibilidade não seja comprometida. Um sistema que seguramente vale os R$ 6.000 a mais pedidos pela versão HPE-S S-AWC.
Em conjunto com o avançado sistema de tração integral, o Eclipse Cross ainda oferece um respeitável catálogo de itens de série. Estão ali o teto solar duplo, faróis full-LED com sistema de comutação automática para o facho alto, lanternas também em LED, head-up display, alerta de ponto cego nos retrovisores externos, controlador de velocidade adaptativo e alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, apenas para citar os itens mais relevantes. Como é de se esperar em um carro com esse valor, o revestimento interno é de couro e também encontramos uma central multimídia completa com câmera de ré.
Como já analisamos aqui no Autoo, o Mitsubishi Eclipse Cross é mais um modelo que chega para reforçar a tese de que o segmento dos SUVs médios é, atualmente, um dos mais interessantes de nosso mercado, pelo alto nível de seus integrantes. Estamos falando de modelos como Chevrolet Equinox, o já citado Peugeot 3008, Volkswagen Tiguan Allspace, dentre outros.
Considerando a faixa de preço na qual o Eclipse Cross vai atuar, talvez o seu maior concorrente seja o Equinox Premier. O Chevrolet traz até mais tecnologia e assistentes de condução do que o Eclipse Cross topo de linha e ainda conta com tração integral. Seu desempenho é algo acima da média para a categoria, graças à excelente dupla formada pelo motor 2.0 turbo e câmbio automático de 9 marchas. Claro que ele cobra um pouco mais por tudo isso, partindo hoje de R$ 162.990.
A Mitsubishi espera comercializar, a partir de novembro, cerca de 300 unidades do Eclipse Cross ao mês. Considerando que um Peugeot 3008 (na faixa de R$ 165.000 com o pacote de tecnologia Griffe Pack) registra um volume médio de 260 carros/mês, é muito provável que a Mitsubishi consiga alcançar sua meta por aqui. Sabendo da forte concorrência que encontra na categoria ao redor do mundo, a fabricante estava ciente de que precisava de um modelo tão eficiente e avançado tecnologicamente quanto seus rivais – e ela soube corresponder a essa expectativa. Por tudo que entrega, o preço do Eclipse Cross com tração integral pode ser considerado bem competitivo. Se você não pode ultrapassar os R$ 160.000 e levar para a garagem de casa um Equinox Premier, o Eclipse Cross HPE-S S-AWC é uma das escolhas mais sensatas que você pode fazer.
Ficha técnica
Mitsubishi Eclipse Cross 2019 HPE-S S-AWC 1.5 16V gasolina automático 4p | |
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Categoria | SUV médio |
Vendas acumuladas neste ano | 2.544 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1499 cm³ |
Potência | 165 cv a 5500 rpm (gasolina) |
Torque | 25,5 kgfm a 2000 rpm |
Dimensões | Comprimento 4,405 m, largura 1,805 m, altura 1,685 m, entreeixos 2,67 m |
Peso em ordem de marcha | 1605 kg |
Tanque de combustível | 60 litros |
Porta-malas | 473 litros |