Uma volta, com emoção, no Linea Racing
AUTOO acelerou fundo no autódromo de Interlagos o carro de corrida da Fiat com motor de 230 cv
“Já guiou um carro de corrida?”, me perguntou Daniel Simonetti, assessor de imprensa da Fiat, enquanto eu afivelava o cinto de segurança no cockpit do Linea Racing. Respondi – “Já guiei um Porsche, serve?”. Balançando a cabeça e já com medo do que eu poderia aprontar, o representante da marca retrucou – “Te prepara, rapaz. Não é fácil dirigir esse bicho!”.
Ao mesmo tempo que um carro de corrida tem de ser simples, para facilitar a manutenção e reduzir peso, ele é complexo na hora de dirigir, ao menos nos primeiros momentos. É difícil até para entrar na cabine, que é toda encarcerada por tubos de aço que formam a “gaiola” de proteção para o piloto, capaz de resistir a pancadas realmente violentas.
O banco é do tipo concha, envolvendo o corpo do motorista da altura das pernas até a cabeça, e o cinto de segurança possui cincos pontos de ancoragem: um de cada lado da cintura, dois correndo pelos ombros e mais um entre as pernas. A sensação de ir totalmente preso ao banco não é nada confortável, pois limita os movimentos do tórax e peitoral. Mas, por outro lado, ir “amarrado” ao assento aumentou minha sensação de segurança a bordo do carro. A armadura tubular também me ajudou a me sentir mais “indestrutível”.
“Esse tipo de sensação não é algo muito bom em um carro desses”, alertou Simonetti, que destemidamente foi escolhido para me acompanhar no test-drive no circuito de Interlagos. Após rezar para uma dezena de santos, o assessor deu a partida no Linea de corrida e me explicou mais uma série de detalhes de como guiá-lo. Lembro de algo sobre “tomar cuidado” e “vai com calma, você não é piloto”...
Pé na tábua!
Simonetti apostou R$ 1 que eu não conseguiria sair com o carro dos boxes de primeira, igual havia ocorrido com os demais jornalistas presentes no evento. Perdeu uma moeda... O Linea de corrida é muito bruto e exige um motorista com braços firmes. Não que eu seja piloto, mas entendi rápido como deveria conduzir o tal do “bicho” que me levaria a mais de 200 km/h.
A embreagem parece pesar uns 100 kg, o mesmo vale para o pedal do freio, que ou freia muito ou não freia nada. “Você precisa ‘montar’ em cima do pedal, tem que por força no movimento”, explicou o assessor. Já o controle do câmbio é disparado a parte mais divertida desse carro. Ele é do tipo sequencial de competição, com uma enorme alavanca ao lado do volante, que ao ser puxada sobe uma marcha e com um empurrão reduz. Ao todo são 6 velocidade para “brincar”.
O mais interessante é avançar as marchas sem precisar aliviar o pedal do acelerador ou pressionar a embreagem. Já nas reduções o mais indicado, para preservar o carro, é embrear. Quando ocorrem as mudanças é possível sentir um estalo na transmissão, que tem de suportar com tranquilidade os 230 cavalos de potência gerados pelo motor 1.4 T-Jet. Esse mesmo propulsor, mas com 152 cv, era usado na versão T-Jet do Linea, que acabou descontinuada.
A suspensão também foi toda otimizada para competições e em nada lembra as usadas em carros de rua. Nesse Linea o amortecimento é quase nulo, pois essa firmeza torna o carro mais estável na curvas. Um fato curioso é a barra estabilizadora no eixo, frontal o que ajuda a deixar o carro ainda mais rígido – veículos normais possuem barra estabilizadora somente na traseira.
Segundo os números da Fiat, o Linea Racing, com o motor em giro máximo (o ruído, aliás, é altíssimo) vai do 0 aos 100 km/h em 5,5 segundos e atinge até 230 km/h. E eu, como pude comprovar, não duvido.
Parte dessa boa performance é crédito da carroceria extremamente leve: pesa apenas 1.035 kg (vazio) – o modelo convencional pesa 1.300 kg. Ajudam também o pneus slicks, de superfície lisa, e o kit aerodinâmico, que aumenta o downforce sobre a carroceria, o que ajuda e muito no contorno de curvas em alta velocidade.
Brincadeira de adulto
O Linea de corrida que o AUTOO testou é o mesmo carro que compete na Copa Fiat, uma das maiores competições monomarcas do automobilismo brasileiro. Para participar do certame é preciso ter habilitação especial para corridas e, claro, o carro, que o departamento de competições da Fiat vende por cerca de R$ 100.000 cada, já com apoio mecânico.
A brincadeira, entretanto, exige nervos de aço e muita perícia na pilotagem, pois nesse carro a relação homem-máquina é totalmente diferente do que estamos acostumados nas ruas, onde tudo é cor-de-rosa comparado ao cenário de uma corrida com mais de 20 competidores. “Não é qualquer um que consegue andar rápido com esse carro”, contou Simonetti. Eu consegui!