Vou de táxi, elétrico!
Andamos no primeiro serviço de táxi elétrico do Brasil e não tomamos choque
No olho do furacão do trânsito de São Paulo (SP), na intersecção entre a Avenida Paulista e a rua da Consolação, agora ficam estacionados dois veículos que mais parecem naves espaciais. Não se trata, porém, de uma base de lançamento de foguetes ou algo parecido. Falamos do ponto de táxi mais moderno do país, onde operam os primeiros veículos elétricos da cidade e antecipam, ainda que a passos curtos, o que pode ser o futuro do transporte da maior metrópole da América Latina, hoje com mais de 30.000 táxis.
E os dois Nissan Leaf (carros de “emissão zero”) estão fazendo sucesso em uma das esquinas mais movimentadas da cidade. “O ponto de táxi daqui a pouco vira ponto turístico. Quando estamos parados por aqui toda hora pinta um curioso que reconhece o carro elétrico e fica surpreso ao vê-lo em São Paulo. Eles tiram fotos, fazem mil perguntas, entram no carro...”, contou José Antonio Nunes, o motorista do Leaf 0001 e o mais novo expert em carro elétrico do país.
“Estou há 36 anos na praça. Comecei com um Fusquinha com o limpador do para-brisa amarrado com um barbante e o acelerador preso com arame. Hoje eu estou ‘metido’ de Leaf”, lembra Nunes, que diz rodar por dia cerca de 150 km com o modelo elétrico pela cidade. “Nem dá tempo da bateria terminar. No final do expediente encosto o carro na garagem da empresa, onde fica uma estação de recarga especial para ele”, explica.
A bateria do Nissan Leaf é feita com mesmo material das baterias de telefones celular, o íon de lítio. O conjunto é uma caixa selada de 300 kg, que fica alojado entre o banco traseiro e o porta-malas. Com carga total, o Leaf roda até 160 km sem precisar “reabastecer”. Para recarregar, basta conectar o carro à rede elétrica por meio de uma tomada trifásica. O processo até atingir os 100% da capacidade do sistema leva 8 horas. Há uma tomada especial que recupera até 80% da energia em 15 minutos, mas ele ainda não opera no Brasil.
“No começo ficava receoso pela bateria, tinha medo dela acabar e me deixar na mão no meio de uma corrida. Mas passou. Você aprende a confiar no carro e o marcador de alcance é muito preciso”, revelou Alberto Ribeiro, o motorista do Leaf 0002. “Mas é claro que sabemos da limitação do Leaf. Tanto eu como o Nunes às vezes temos de recusar algumas corridas mais longas, pois além do deslocamento até o destino também temos de calcular a distância do retorno até o ponto na Av. Paulista ou a garagem onde recarregamos as baterias”, explica.
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Alberto Ribeiro, motorista do Leaf 0002, no começo tinha receio da bateria acabar. Agora já se acostumou
Apesar da limitação no alcance, o calcanhar de Aquiles de todo automóvel elétrico, a economia já aparece na ponta do lápis dos “taxistas elétricos”. “Antes, com um Renault Logan, eu estava gastando uma média de R$ 80,00 por dia com gasolina para percorrer até 250 km. Hoje não coloco a mão no bolso e rodo 150 km, pois recarrego o Leaf na empresa”, conta Nunes. Na conta de luz da Alô-Táxi, que opera o Leaf 0001, aparece um consumo de meros R$ 8,00 por dia para completar a bateria do táxi elétrico.
“Outra diferença que tivemos que nos habituar foi a sensação de aceleração mais forte, como a de um carro com motor 2.0, e o silêncio absoluto do motor. As pessoas não percebem o Leaf chegando. Passei o maior sufoco na 25 de Março, tive que buzinar para a multidão que não ouvia o táxi se aproximar”, relembra Ribeiro.
"Estou metido": O motorista José Nunes trabalha 6 horas por dia com o Leaf em São Paulo
Voz dos passageiros
Alguns passageiros notam que o Leaf é um carro diferente de imediato, por causa do design ousado e as inscrições nas portas, e outros só percebem a bordo, onde o modelo também mostra seu silêncio e um painel cheio de luzes coloridas e com acabamento moderno.
“Precisei de táxi só uma vez este ano e dei a maior sorte ao andar logo no primeiro carro elétrico da frota de São Paulo”, comemorou o administrador Aldo Jesus, que fez uma corrida de poucos quarteirões com o motorista Nunes. “Fiquei impressionado com o silêncio na cabine e o torque do motor também pareceu ser forte. Gostei tanto do carro que o motorista até deixou eu guiá-lo por um quarteirão. Não vou esquecer nunca dessa corrida”, salientou.
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A estudante Gabriela Natni, de Belém do Pará (PA) e de passagem por São Paulo, também gostou do táxi elétrico. “Fiquei espantada quando vi esse carro em SP. Já tinha lido em revistas que isso é uma tendência mundial e achei interessante ela já estar entre nós. Durante o caminho, o motorista foi me explicando todos os detalhes diferentes do táxi, adorei. Mas ainda acho que ainda vai demorar a chegar na minha cidade”, lamenta a passageira.
Até taxistas têm dia de passageiro no Leaf. O motorista Dener Lino que o diga. Ao armar a câmera da janela de seu táxi para fotografar o Leaf 0001 foi notado por Nunes, que imediatamente parou o táxi e convidou Lino para conhecê-lo de perto e tirar uma fotografia mais caprichada. “Já tinha visto o carro em uma revista e fiquei surpreso em encontrá-lo tão rápido nas ruas e mais ainda ao conhecê-lo de perto”, contou o taxista, que está há 15 anos no ramo na capital paulista.
“Além do táxi ser bacana, o motorista Nunes é uma figura. Me deixou até guiar o carro, pode uma coisa dessas? Fiquei pasmo com o preço de rodagem. Ele me disse que gasta apenas R$ 8,00 por dia. Eu gasto mais de R$ 50,00!”, revelou Lino, que lamentou apenas pelo alto preço do carro no Brasil, que bate nos R$ 200.000. “Se fosse uns R$ 60.000 eu levava”, completou.
Projeto piloto
Os dois Leaf em operação fazem parte de um projeto piloto para divulgação e disseminação dos táxis elétricos no país. Estão na jogada o grupo Renault-Nissan do Brasil, a prefeitura de São Paulo, a AES Eletropaulo e Adetax, a associação das empresas de táxi. O plano compreende ainda a introdução de mais 8 carros elétricos na cidade até o final do ano, além da criação de cinco pontos de recarga rápida para os veículos em concessionárias Nissan.
Com uma frota em circulação, a associação espera convencer o governo brasileiro a aplicar impostos mais brandos para este tipo de veículo, além de incentivar a prática, afinal de contas os carros não emitem uma única partícula de CO2 na atmosfera.
Candidatos a “cartão postal”, os táxis elétricos de São Paulo já está agradando em cheio os motoristas, que economizam, e os passageiros, que são surpreendidos pela modernidade.